Im a(r)terial

Da janela embaçada pela chuva, vi os pingos bailando no vidro. De repente, um pensamento me ocorreu. Teria tido uma iluminação divina ou apenas descobri mais uma roda que gira nos campos da humanidade?

– O maior bem é imaterial.

Parecia lógico, mas em um mundo movimento por cifras, consumo e sacolas plásticas.. Bom, não deve ser tão óbvio.

O bem maior não se conta. Não cabe em nenhum cofre de metal. Não entra em agências bancárias. Ele se esconde. Mas não é difícil de encontrar. Está nas rodas. Nos sorrisos. Em cada “eu te amo”. Toda vez que alguém sente saudade, ele aparece.

É o imaterial que conta. Ele não se desmancha na chuva. Ele não se perde depois de um dia. Não desidrata se for esquecido no sol. Não tem prazo de validade. Não se toca. Apenas se sente. Talvez tenha cheiro, pode ter cor, mas não há seguro que cubra.

O bem maior sobrevive a cada vida. Nem a morte o alcança. É dele que irei cuidar. É ele que vai me guiar a cada dia. A matéria precisa de um i para ter relevância. A matéria sem a negação é audácia, ilusão. A não matéria é sentido, verdade.

Olhei pela janela. A chuva tinha ido embora. Os pingos ainda estavam lá. E eu tive a sensação de ter desvendado parte da existência.

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